Aluísio Almeida fala sobre Relacionamento Interpessoal

— Foto: ASCOM8

 

'Pare, desligue as luzes externas, acenda as internas, identifique-se e siga'. A frase, que pode ser facilmente encontrada em placas sobre procedimentos de segurança em condomínios, sintetiza a palestra proferida pelo assistente social, com formação em Terapia Familiar e dinâmica de grupo, Aluísio Almeida, durante a III Semana Institucional do TRT8.  A seguir, destacamos uma entrevista onde ele resume alguns outros pontos de sua apresentação sobre relacionamento interpessoal. 

O que o senhor chama de vilania dos tempos modernos?

Estamos vivendo momentos muito difíceis. Nós temos muitos avanços, avanços tecnológicos especialmente, mas não conseguimos avançar no que diz respeito à relação humana e estamos relegando ao segundo plano aquilo que é nossa essência, nosso emocional, nosso relacional. E isso tem transtornos de diversas ordens no mundo de hoje, provocando os desastres que a gente está vendo, desde os locais aos internacionais.Nas organizações, por exemplo, a competição fere a ética. Onde você quer subir em detrimento do outro, você quer ser bem visto e, muitas das vezes, ser reconhecido às custas da depreciação, da deploração do outro, esse é um dos aspectos.

Dentro das organizações, como a gente deve entender a nossa relação com o outro? 

É uma relação de aprendizado. Mas, embora tenha no planejamento de vocês (TRT) como objetivo estratégico a valorização das pessoas, e como valor a valorização das pessoas, nós ainda não introjetamos isso. Porque aquele servidor, aquela pessoa que é mal humorada e tem suas dificuldades, que falta, que não cumpre com suas tarefas, é um ser humano que tá precisando ser ajudado, por algum motivo ele está empacado alí, ele não está crescendo junto com a organização. Então, ele precisa ser ajudado.  Quando a gente começar a mudar esse olhar para o ser humano e não enxergar como algo a ser descartado, que ele precisa ser reaproveitado, redirecionado, nós teremos conquistado muitas das vezes uma liderança, um talento enorme por esse olhar diferente.

Quais atitudes o senhor sugere dentro das organizações?

Eu coloquei basicamente três, a flexibilidade, que são pessoas muito rígidas com elas mesmas e com os outros. A aceitação, do outro como ele é, e o compromisso com essa visão de engajamento com o outro. E  o sentido de cooperação, que é o crescimento em conjunto, por que de quê vale ser feliz sozinho? Ninguém consegue.

Como fica o papel  da comunicação nesse contexto?

A comunicação, embora seja importante, ela é efeito, não é causa. A causa é o que eu estou sentindo, como estou percebendo o mundo. A comunicação é consequência,  embora seja importante, ela vem em segundo plano.

Então, a origem do problema não está no outro e sim dentro de cada um?

Se cada um pensar assim, se cada um conseguisse introjetar que é a si mesmo o único ser ao qual se tem a possibilidade de transformar, e não tem como transformar o outro, ou seja, 'se eu me transformar, eu já estou melhorando', boa parte da convivência com o outro seria resolvida. É comum as pessoas dizerem  “Eu não sei o que aconteceu, ele mudou” , sem se darem conta que foram elas mesmas que mudaram, e por isso o outro mudou.

O grande medo das pessoas é aceitar o outro e estagnar, mas não é bem isso, certo?

Não, aceitação não quer dizer concordar com o outro, não quer dizer que ele está certo. É apenas aceitar que ele tem aquele olhar e ponto de vista. A partir daí, nós podemos construir alguma coisa. Não se faz nada se não aceitamos. Quando não nos aceitamos, não podemos evoluir, pois nós não reconhecemos o estágio que a gente está. Eu costumo brincar dizendo assim: Se eu colocar você no meio do Amazonas, no meio da mata Amazônica, por exemplo, é disser pra você - "volte para casa", e você pode fazer apenas uma pergunta, que pergunta você faria? A pergunta é onde estou, porque é a pergunta básica, aí posso imaginar como sair dali, pra onde que eu vou, mas eu preciso saber primeiro onde estou, onde estou é a auto aceitação.