23/02/16 - Elcy Cunha, aposentada, fala de sua vida ainda trabalhando na 8ª Região

— Foto: ASCOM8

 

Foi publicado no Diário Oficial da União do dia 14/01/2016 a aposentadoria da servidora Elcy Leal da Cunha. De fato, a colega, que há quase 30 anos dedica-se à Justiça do Trabalho da 8ª Região, ainda não vai deixar o trabalho! É que, com tantos conhecimentos e a dedicação que são marcas registradas de sua personalidade, a Elcy atendeu ao pedido da administração do Tribunal e permanece em serviço, na Diretoria Geral.

 

E como a nova CN, no quadro 'Nossa Gente', busca mostrar pessoas que inspiram pessoas, reconhecer valores e homenagear quem efetivamente faz a Justiça do Trabalho na 8ª Região, trouxemos uma entrevista com a nossa colega Elcy Leal da Cunha. Ela conta da carreira, família, espiritualidade, erros e acertos. Vale a pena ler!

 

 

 

ASCOM: Elcy, você entrou ainda muito jovem no TRT8. O que pensava da carreira naquela época e como ela efetivamente se desenvolveu?

 

Elcy: Prestei Concurso Público em 1984 para o cargo efetivo de Auxiliar Judiciário (nível médio-atual Técnico Judiciário). Porém, fora criado um quadro de empregos sob o regime da CLT e, assim, muitos foram aproveitados e contratados sob o regime da CLT para o emprego de 'Auxiliar em Atividades Judiciárias', sendo eu uma destas pessoas. Quando ingressei no TRT, a Chefe de Pessoal na época, a Yoshié Ichihara, já falecida, infelizmente, me chamou 3 vezes para lotação em Vara de fora sede. Como já trabalhava na Receita Federal, como Agente Administrativo, informei que só aceitaria contratação se fosse para lotação em Belém. Tive sorte. Fui lotada em Belém e, após um teste com minha caligrafia (não entendi bem na hora), fiquei lotada no Serviço de Pessoal, trabalhando com a própria Yoshié. Depois fiquei sabendo que ela me escolhera por ter uma caligrafia boa, pois queria alguém para escrever os termos de posse, que eram feito em livros imensos. Hoje eles estão lá Memorial do TRT8.

 

Digo aos colegas que sempre atuei na área administrativa porque gostava do que fazia, além do fato de que o ambiente sempre foi muito bom, apesar dos inúmeros desafios que enfrentamos na Justiça do Trabalho, durante todos estes anos.

 

Pensava em crescer na carreira escolhida e passar ao cargo de Analista Judiciário (Nível Superior) e até prestei outros concursos. Mas, por circunstâncias diversas, não logrei êxito em ingressar nessa carreira, contudo, pude crescer no Tribunal, por ter atuado em unidades da Área de Pessoal ou de Recursos Humanos e ter meus esforços reconhecidos e a oportunidade de ser indicada várias vezes para exercer funções de confiança. Tive oportunidade de ser Chefe da Seção de Cadastro, onde eram recebidos todos os novos magistrados e servidores; por isso muitos me conhecem desde longa data. Também pude atuar como Diretora do Serviço de Administração de Pessoal e, posteriormente, como Diretora da Secretaria de Recursos Humanos, totalizando 23 anos na área de pessoal .

 

Após 2008, fui convidada a ser Diretora Adjunta do Diretor Geral, cargo comissionado que hoje é de Assessoria, onde continuo, agora como extraquadro.

 

Posso dizer que sou muito feliz por pertencer a esta Casa e agradeço isso todo dia, por Deus ter colocado em meu caminho todos os que contribuíram para meu amadurecimento pessoal e profissional, magistrados e colegas servidores.

 

Temos aqui no TRT8 uma vida em comum e às vezes agimos como família, dando e recebendo feed back. Às vezes bons e outros nem tanto, porém, como família, correndo juntos esta longa estrada da vida. Aqui e acolá, magoando alguns e sendo magoados, pedindo ou recebendo perdão. Pra mim, agora é um momento de agradecer a Deus por ter conquistado minha aposentadoria e a todos os que me ajudaram tantas vezes e, também, de pedir perdão a quem magoei, também, tantas vezes.

 

 

 

ASCOM: Conte alguns fatos que marcaram esses quase 30 anos de JT8.

 

Elcy: Assim como muitos dos nossos colegas e magistrados, tive a oportunidade de presenciar muitos fatos ocorridos aqui no TRT da 8ª Região, além dos institucionais já conhecidos. Alguns muito bons, como as posses dos Presidentes, desde 1986; as posses de vários magistrados e de vários servidores; ter a honra de receber da Doutora Alda Couto (Desembargadora), com quem trabalhei por quase 2 anos, a Medalha de Honra ao Mérito; ter tido como subordinados alguns colegas que hoje já são magistrados do TRT8 e de outros Tribunais; ter a oportunidade de receber vários colegas que ainda atuam fora da sede, desde que ingressaram; ter atuado diretamente na tarefa de movimentação mensal de Juízes Substitutos, quando essa escala era realizada pelo Serviço de Pessoal, o que me permitiu conhecer melhor muitos magistrados e de dar-lhes apoio, quando necessário. Poder trabalhar com pessoas que sempre me respeitaram e que sempre demonstraram muita consideração para comigo.

 

 

 

 

ASCOM: O que você julga que seja o mais gratificante em trabalhar no TRT8?

 

Elcy: O que eu acho mais gratificante em trabalhar no TRT da 8ª Região é o comprometimento do Órgão na apresentação de um serviço de qualidade, não só aos clientes externos, como aos clientes internos, seus magistrados, servidores e colaboradores, ativos e inativos.

 

Vejo que, desde a alta Administração até os colegas e colaboradores que atuam na logística, em sua maioria, procuram atuar com esmero, fazendo esforços até além do esperado, tudo para manter o órgão em pleno funcionamento, sem que se fale, por aí, de que alguém não foi atendido a contento. Durante esses 30 anos, observei muitas melhorias nos serviços prestados, por exemplo, no âmbito da tecnologia, desde 1993, tivemos grandes avanços, em comparação com outros órgãos públicos, o que nos permitiu fornecer um trabalho de qualidade.

 

Com relação à infraestrutura e logística, o Tribunal nunca parou de implementar melhorias, a fim de dar o melhor ambiente de trabalho aos seus funcionários e juízes e tem continuado assim, pois se trata de um trabalho de longo prazo em face da nossa realidade brasileira. E isso é algo que todos deveriam entender. Se formos observar, houve muito progresso desde a inauguração do primeiro prédio da Justiça do Trabalho. Além disso tudo, uma das melhores coisas que o Tribunal nos proporcionou foi criar um Plano de Saúde de excelência, considerado como um dos melhores do país. Outras coisas muito boas foram as criações da Escola Judicial e da ECAISS, que permitem o aprimoramento constante de seu corpo funcional. Tudo isso eu agradeço.

 

 

ASCOM: Ao longo da sua carreira, você casou, teve filhos. Como é conciliar família e trabalho?

 

Elcy: Sim, entrei aqui em 4 de agosto de 1986 e me casei em maio de 1987 e ainda continuo casada com a mesma pessoa. Tive dois filhos, Marília, em 1994, e Victor, em 1996. Conciliar trabalho e família não foi fácil. Contudo, tive sorte, pois sempre pude contar com o apoio de meu esposo Milton e de minha família mais próxima, mãe, pai e irmãos, nos períodos mais difíceis, na infância e adolescência dos meus filhos. Também sempre contei com o apoio emocional e espiritual por sermos, eu, meu esposo e boa parte de minha família materna, Testemunhas de Jeová. Desde os 11 anos sou TJ e depois de casada assistimos regularmente, como família, as reuniões semanais. Esse esforço ajuda muito a lidar com as ansiedades do dia a dia. Também, não posso esquecer que nunca tive problemas com meus superiores hierárquicos quando precisei me ausentar para resolver problemas de família e isso é algo pelo qual serei eternamente grata.

 

Hoje, observamos muitas mudanças de comportamento na sociedade, demandando dos pais mais atenção aos filhos, diante de tanta informação a que são bombardeados, seja pela mídia, seja pela escola ou pela internet. Esse é um problema global, do qual os pais modernos precisam dar mais atenção, para não deixarem seus filhos à mercê do mundo sem orientação, seja emocional, seja espiritual, seja profissional, Penso que os órgãos públicos e instituições públicas ainda estão engatinhando quando se trata de implementar programas internos voltados para a unidade familiar de seus funcionários. Por exemplo, deveria ser obrigatório que todos os órgãos públicos tivessem creches pré-escolares ou mantivessem convênios com órgãos públicos destinados a menores com deficiência, filhos de servidores e magistrados, ou, ainda, um quadro maior de profissionais para implementar programas preventivos de moléstias decorrentes de problemas no trabalho e na família.

 

 

 

ASCOM: Ainda bem no início da sua carreira você assumiu chefias e cargos de assessoramento, como até hoje. Isso é sempre um desafio. Como você lida com a responsabilidade no dia a dia?

 

Elcy: É verdade. Assumir cargos comissionados ou de chefias, a meu ver, requer duas coisas essenciais, além de competência: coragem e determinação, porque passamos a tomar decisões e a assumir riscos. Então, nunca me esquivei de fazer qualquer tarefa de trabalho que me fosse determinada, por não saber como fazer. Aproveitava qualquer oportunidade de aprender como fazer, com os meus superiores ou pesquisando. Sempre fui orientada a buscar as legislações, a fazer consultas externas para outros órgãos e a sugerir propostas e alternativas para solucionar problemas. Porém, além disso, procurei obter apoio de meus superiores e, claro, a obedecê-los quando discordavam de mim. Tive bom êxito nesse processo. Fora isso, penso em viver um dia de cada vez, enfrentando os problemas diários da melhor maneira possível.

 

 

 

ASCOM: Apesar estar aposentada do quadro permanente de servidores do TRT8, você ainda está trabalhando com cargo em comissão na Diretoria Geral. Como foi essa decisão na sua vida?

 

Elcy: Trata-se de comprometimento para com o TRT8, não só para com a alta Administração, mas, também, para com os colegas. Faço parte de um grupo de servidores que ingressou na década de 1980 e que está completando o tempo para aposentadoria agora em 2016, 2017. São muitos servidores saindo ao mesmo tempo. Sei que o Tribunal está passando por forte pressão com o contingenciamento de despesas, sendo que, até mesmo a recomposição do quadro de pessoal está difícil, pois não temos candidatos aguardando nomeação. Assim, considerando que ainda posso colaborar com minha experiência profissional e que ainda disponho de tempo, memória e paciência, resolvi, após considerar o assunto em família, aceitar o convite do nosso Presidente e do nosso Diretor-Geral para aguardar mais um pouco para me desligar desta Casa.

 

 

 

ASCOM: Qual sua visão de como deve ser a postura de um servidor público?

 

Elcy: Só o título já diz tudo "Servidor Público". Servir é algo muito difícil para aqueles que não tem humildade. Nós estamos aqui para atender e ser retribuídos por isso. Para quem é humilde e gosta do que faz, o trabalho pode ser muito prazeroso e recompensador (não só financeiramente). E ser humilde não significa ser fraco, ao contrário, quem se comporta humildemente, muitas vezes, torna-se superior aos demais. O contrário também é verdade. Por isso, penso que, no serviço público, todos são importantes para a instituição como um todo e que cada um cumpre um papel imprescindível, como num corpo humano. E para que tudo funcione bem, precisamos estar dispostos a colaborar, agindo com lealdade, legalidade, presteza, moralidade, cumprindo nosso compromisso inicial.

 

Não basta passar no concurso. A pessoa precisa estar ciente não só do valor do salário, do plano de carreira, dos cargos em comissão que pode vir a assumir, mas, também, precisa saber que tem deveres e obrigações e que, ao tomar posse, assume todos os riscos envolvidos nesse processo.

 

Veja as fotos aqui.