Belém 400 anos: Cemitério Nossa Senhora da Soledade

— Foto: ASCOM8

 

Localizado em um dos bairros nobres da cidade de Belém, capital do Estado do Pará, o Cemitério Nossa Senhora da Soledade (CNSS), com aproximadamente 22.500 m², divide espaço com prédios residenciais e comerciais que contrastam com sua estrutura antiga e túmulos suntuosos em estilo europeu. Inaugurado em 1850 e tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional  (IPHAN) em 1964, o Cemitério da Soledade foi o espaço público escolhido para, no mês de março, integrar as homenagens do Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região aos 400 anos de Belém. Conheça sua história e como hoje ele se integra com a comunidade local.

No século XIX, devido ao contexto de epidemias que assolou a Província do Grão Pará, foi decretado que os enterros antes realizados nas igrejas deveriam ocorrer em local aberto, por medidas sanitárias. Assim surgiu o Cemitério Nossa Senhora da Soledade, o primeiro cemitério público de Belém, que passou a reunir ricos e pobres sepultados no mesmo espaço. Antes disso, as famílias com mais posses realizavam os sepultamentos no interior das igrejas, e os pobres, escravos e pessoas não ligadas a irmandade eram enterrados no Cemitério do Largo da Campina, localizado onde hoje se encontra a Praça da República.

Desativado para sepultamentos em 1880, com cerca de 400 túmulos e 30 mil pessoas enterradas, atualmente o cemitério é administrado pelas esferas municipal, estadual e federal, e é aberto ​à visitação pública. No espaço, além dos túmulos, mausoléus, capelas e esculturas, chamam a atenção dos visitantes o culto aos “santos populares”, visto através de velas e adereços colocados em alguns túmulos. De acordo com o Prof. Marlon Lima da Silva, Mestre em Geografia, que já desenvolveu pesquisa sobre o CNSS, a importância do Soledade para a cidade de Belém tem dois aspectos, um relacionado à cultura material, com o reconhecimento do espaço enquanto patrimônio cultural pelo IPHAN, e outro imaterial, que é a importância simbólica do culto aos chamados santos populares.

“O conjunto dos elementos materiais presentes no Cemitério da Soledade, incluindo os monumentos funerários, o gradeamento de ferro importado da Inglaterra e a capela neoclássica, conservam características marcantes do século XIX, constituindo praticamente um museu a céu aberto. Além do reconhecido valor artístico e de sua importância histórica, o cemitério tem se destacado por assumir funções bem mais amplas​,​ que extrapolam seu patrimônio material, caracterizando um espaço de forte representação simbólica que se revela no culto às almas, realizado todas as segundas-feiras, quando o cemitério é aberto ao público”, afirma.

Atualmente, o culto aos santos populares é a principal forma de interação da população local com este espaço público, sendo praticado por pessoas de diferentes classes sociais e moradores de diversos bairros da cidade, sejam jovens, adultos ou idosos. Entre os santos populares mais cultuados estão: Raimundinha Picanço, Preta Domingas, Menino Cícero, Escrava Anastácia e Menino Zezinho. Segundo Marlon Lima, “o patrimônio material tem sido apropriado por dezenas de pessoas que realizam orações nas proximidades das sepulturas dos chamados santos populares, em sinal de reconhecimento de graças e 'milagres' alcançados, atribuídos, também, a esses santos. A prática do culto mostra que ainda hoje o Cemitério da Soledade se mantém conectado ao cotidiano de Belém, assumindo funções mais complexas que precisam ser pensadas no âmbito do planejamento”.

Visando a preservação e manutenção da integração do cemitério com a cidade, existe um projeto conjunto das esferas públicas que administram o cemitério para transformá-lo em um cemitério-parque. O Prof. Marlon destaca que é importante pensar ações de preservação e educação patrimonial para o espaço. “Desde 2006 existe a ideia de ‘revitalizar’ o Cemitério da Soledade, transformando-o em cemitério-parque, uma espécie de museu, aberto à visitação pública. Acredito que​,​ antes mesmo de se propor novos usos, utilizando as potencialidades turísticas e definindo novas formas de relação com o bem, torna-se fundamental a criação de canais mais amplos para se discutir sobre a importância simbólica do cemitério e o modo como o patrimônio tem sido utilizado pelos frequentadores, com o objetivo de construir cenários em que os usos futuros possam se relacionar com os usos atuais​,​ em prol da preservação do bem patrimonial”, ressalta.

Para quem desejar conhecer, o Cemitério Nossa Senhora da Soledade está localizado na Av. Serzedelo Corrêa, entre Gentil Bittencourt e Conselheiro Furtado, no bairro Batista Campos. O espaço está aberto a visitação pública todas as segundas-feiras.