Abertura do ano Judiciário do TRT8 contará com a palestrante Judith Euchares Ricardo de Albuquerque

— Foto: ASCOM8

 

A Abertura do Ano Judiciário de 2017, abordando o tema Saúde Mental no Trabalho, contará, além do palestrante, Dr. Bruno Leal Farah, com o conhecimento e a experiência sobre o tema da Psicóloga Judicial – Psicanalista do TRT3, Judith Euchares Ricardo de Albuquerque. Judith é graduada em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais, psicanalista praticante em consultório desde 1997, preceptora da formação de Psiquiatras Forenses no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais – 2008 a 2010.

Confira abaixo a entrevista concedida por Judith ao TRT8:

 

  • No evento, o Sra. ministrará uma palestra sobre " “Sofrimento Mental no Judiciário: mitos e verdades”. Como trabalhará o tema?

Falarei sobre as características do sofrimento mental na contemporaneidade e suas consequências para o judiciário, tanto com relação às questões subjetivas que chegam via processos, como também as dificuldades que as instituições judiciárias enfrentam com o sofrimento dos seus membros - juízes e servidores.

 

  • A senhora acompanhou por mais de dez anos os juízes em sala de audiência. Como isso foi importante para a elaboração desta palestra?

Quando iniciei meu trabalho na Escola Judicial do TRT de Minas Gerais, há 14 anos, fui conhecer a rotina da sala de audiência para entender um pouco o que se passava lá e, desde então, não mais saí. Acompanhei os juízes por todos esses anos, diariamente, porque entendi que eles, como nós psicanalistas, lidam com os conflitos humanos e suas dificuldades, apesar de não possuírem instrumental para lidar com as idiossincrasias humanas.

Dei o nome de “Clínica da audiência” à atuação dos magistrados com as dificuldades com as partes, em sala de audiência. Obviamente, a proposta não é de que eles exerçam uma clínica, o que os tirariam de suas funções, mas de que entendam com o que estão lidando, para além do jurídico.

Considero ser esta a falha na formação acadêmica dos operadores do direito.

 

  • Quais as considerações que a senhora julga mais importantes sobre o assunto?

Nossa sociedade está sem orientação. As figuras de autoridade de outrora já não cumprem mais sua função e os indivíduos vão ao judiciário não só em busca de seus direitos, mas também de orientação e amparo. Buscam uma intervenção de alguém que, encarnado na figura de autoridade, possa lhes oferecer um certo apaziguamento em suas questões subjetivas.

No entanto, atualmente, a autoridade declinou, encontra-se fragilizada e à mercê de questionamentos vários. Se o magistrado não estiver capacitado para essas novas demandas que lhe chegam, correrá o risco de não lidar bem com elas, por não vê-las; ou então ser abusivo, por querer acreditar que é mais potente do que alguém que apenas cumpre uma função social essencial, porém baseada na crença do simbólico, que é frágil.

 

  • Como o sofrimento mental afeta a produtividade e as metas de produtividade dos tribunais?

Entendo que as metas nem sempre estão de acordo com a realidade. Metas são definidas muitas vezes sem se levar em conta as especificidades de cada local. Penso que tudo o que é padronizado desconsidera o lado humano, o um a um, a singularidade do sujeito humano.

Viver exige coragem, porque não é fácil. A vida particular de cada membro da instituição interfere nos resultados e é importante ressaltar que não é possível falar em prevenção no campo da saúde mental. Apenas abordar o sofrimento mental de forma técnica e responsável.

 

  • Cada vez mais o juiz tem sido chamado para resolver conflitos que transcendem questões trabalhistas. A senhora possui grande experiência sobre o assunto. Como isso afeta a saúde mental dos magistrados e como a senhora avalia a maneira que Judiciário tem respondido essas novas demandas?

Na minha opinião, o Judiciário não tem feito uma boa leitura da questão.

A presença do sofrimento mental tem sido utilizada de forma tendenciosa para justificar muita coisa na instituição. Trata-se de um tema para o qual foram abertas as portas, mas que acabou se tornando um Cavalo de Troia, um presente envenenado. Fala-se a todo momento de doença mental, mas não se aborda. Passa pela sua vizinhança, pelo seu entorno e lhe é dado um tratamento superficial, padronizado, por meio de atos anônimos e burocráticos, e não a incluem em nenhuma política de enfrentamento.

São necessárias definições operatórias, diagnósticos e intervenções, levando-se em conta a singularidade de cada sujeito. E, sobretudo, coragem e abertura para o novo.