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Percebendo Belém e suas edificações em contextos arquitetônicos e paisagísticos, a Exposição Bordas, do artista visual Nelson Carvalho, inaugura nesta sexta-feira (10) as atividades do ano de 2017 do Espaço Cultural Ministro Orlando Teixeira da Costa, do Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região.
O Espaço Cultural disponibiliza o contato direto com a arte, com possibilidade de aquisição das obras, tanto para servidores e magistrados, como para o público externo que se interessar, no horário de funcionamento do Tribunal – das 8 às 13h.
Nelson Carvalho é natural do Piauí, mas criado em Belém. Professor na UFPA, arquiteto e desenhista, ele conta que seus desenhos parecem surgir de um espanto, “é sempre uma surpresa quando dou por finalizados”. Não se importa se há pessoas observando, de desenhar tomando um café, ou numa mesa de bar. Quando a inspiração surge, Nelson pega uma entre suas várias canetas de nanquim que carrega sempre com ele e começa os seus traços. “Alguns desenhos podem demorar semanas, outros dois ou três dias, mas nunca um dia só”.
Na cidade de Belém, entre alguns pontos que trazem a marca de Nelson Carvalho, podem-se citar obras, como o Projeto do Ver-o-Rio, do Ver-o-Peso, o Memorial dos Povos, a Orla de Icoaraci, a Orla de Mosqueiro, o Palacete Pinho e o Palacete Bolonha.
No entanto, foi a partir de sua inspiração mais livre e criativa que o seu traço começou a ser revelado. "O nanquim bico de pena é uma técnica surreal, é abstração, me apoio em uma técnica antiga para dar uma cara moderna. Me desvincilho da arquitetura, mas ainda me aproprio dela”. O artista defende o arquiteto como alguém muito mais humano, justamente, devido ao apelo criativo: “prefiro entender o arquiteto como alguém que cria o tempo inteiro”, explica Nelson.
Nelson Carvalho se define como “alguém curioso”, consegue ver a evolução de sua obra, agora, com muito mais detalhes, nunca indiferente e sempre fascinado pela Belém que conhece desde menino. Segundo o próprio artista, a Exposição Bordas vem consolidar um momento que não tem mais volta, proporcionando-lhe o “selo de artista”.
Confira abaixo a entrevista de Nelson Carvalho, para a Assessoria de Comunicação do TRT8:
ASCOM - Como você começou a desenhar?
NC - Meu primeiro contato com desenhos, ou melhor, com a ideia de desenhar de maneira mais elaborada aconteceu quando, já no curso de arquitetura, precisei me apropriar da linguagem expressiva própria da arquitetura, o desenho, então só possível se produzido a mão, o encantamento foi forte e decisivo. Até então, não conhecia o universo incrível das possibilidades expressivas da arte. Naqueles anos de atelier de arquitetura me permiti frequentar o rico circuito das artes de Belém, tudo me interessava, cinema, teatro, música, artes plásticas. Circulei por diversos grupos criativos. Um desses grupos me capturou e fui frequentar o Fotoativa do Miguel Chikaoka; acredito que aquele momento foi um marco importante no meu percurso, foi inspirador, entendi a potência da fruição estética, de uma certa educação do olhar, ver de maneira mais ampla, atenta e pessoal meu cotidiano. Penso que desenhar mudou seu sentido ali, a atitude deixou de ser mecânica e impessoal e naturalmente passei a associar uma identidade aos traços arquitetônicos que produzia. O processo foi lento, intenso e constante, e segue assim.
ASCOM - Quem, o que te inspira?
NC - A cidade de Belém me inspira e tudo que lhe dá caráter e identidade, as pessoas que conheci, a paisagem urbana única que possui, me interessa. É uma relação de amor, curiosidade, respeito, ódio e muita intensidade, estar vivo nessa cidade me inspira. Falar dela me inspira. Dizer o que penso dela com meus desenhos me inspira.
ASCOM - Qual foi a primeira exposição pública do seu trabalho?
NC - Gosto de dizer que desenhar em público foi uma forma de superação pessoal, foi uma maneira de afirmação de identidade. Presentear com pequenos e velozes desenhos as pessoas que conviviam comigo sempre foi um prazer, permitir o compartilhamento do processo todo. Penso que essa foi minha primeira “exposição” voluntária… Mas, se pensamos em um local mais tradicional, a primeira foi no Salão Primeiros Passos do CCBEU em 2016.
ASCOM - Existe algum desenho seu que você poderia dizer que retrate o Nelson Carvalho? Por quê?
NC - Cada desenho é o resultado de um conjunto de condições e contextos próprios, únicos e tendem a ser a tradução do que percebo no exato momento de cada traço, complexo domar o instante... E, se não permito que assim seja, o resultado perde a intensidade, fica frágil ou falso. Os desenhos criados para esta exposição possuem intensidade e detalhamentos que dizem muito de mim, cada vez mais livres de barreiras criativas, isso é o que me motiva. Estão muito próximos de um autorretrato.
ASCOM - Porque a exposição se chama “Bordas”?
NC - Bordas faz parte de meus roteiros particulares na cidade, nesses roteiros percorro espaços e situações de limite e, quase como uma regra, busco e encontro situações de fronteiras, de franjas e até mesmo de fim. É aí que posiciono minha poética. São nesses lugares limítrofes que encontro meus argumentos estéticos, seja na paisagem arquitetônica seja nos conflitos decorrentes dela mesma. E, em uma metrópole como Belém, este campo é vasto.
ASCOM - O que as pessoas poderão esperar dela?
NC - Espero de alguma maneira sensibilizar as pessoas que vierem compartilhar a exposição. Os desenhos possuem uma força expressiva, cambiante, e por isso mesmo, as possibilidades de fruição se ampliam e permitem uma troca bastante favorável e pessoal.
ASCOM - Existe algum projeto ou oficina em que você ensina a técnica de desenho com nanquim?
NC - Infelizmente, não tenho um roteiro ordenado o suficiente para se transformar em uma oficina ou aulas regulares. Sou professor de desenho livre e expressão plástica, maquetes, entre outras disciplinas, mas nenhuma se compara aos processos que enfim uso em meus trabalhos a nanquim.
ASCOM - Como você vê o futuro das artes?
NC - Entendo que existe um espaço expressivo que é uma marca de humanidade, que nos dá existência e substância e, por mais que tentemos, não há como retirá-lo ou substitui-lo por nada semelhante a este ato criativo. É aí, neste lugar que me posiciono, porque entendo que é permanente. Arte dura, permanece mesmo, e por isso mesmo, acredito em sua parceria de vida, enquanto existirmos. Não consigo pensar em projeções e especulações, uso uma técnica que não é recente e me sinto absolutamente à vontade nestes tempos líquidos. Arte sobrevive, tranquilamente.
A entrevista foi encerrada com um convite do artista: “Estou curioso por mais esta mostra de meus desenhos, quero convidar as pessoas que gostam de desenhos, meus amigos, alunos, servidores do TRT8, enfim venham vê-los, será uma honra”!
Conheça um pouco mais do artista em suas redes sociais:
Facebook: Nelson Carvalho Desenhos
Instagran: nelsoncaarvalho
Programe-se:
Vernissage: 10 de março, às 10h
Período: De 10 de março a 07 de abril
Local: Espaço Cultural Ministro Orlando Teixeira da Costa, 1º andar do TRT8
Visitações: Segundas às sextas, das 8 às 13h.