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Idealizado para levar o cinema à elite de Belém, o Cine Olympia é hoje o mais antigo em funcionamento no Brasil. Localizado em frente à Praça da República, em uma das vias principais da cidade, guarda marcas de seus 104 anos de história, com parte de sua estrutura preservada e em plena atividade com exibição de filmes diariamente. No mês em que se celebra o Dia do Cinema Brasileiro, o TRT8 conta um pouco da história deste espaço público, na série “Belém Têm”, em homenagem aos 400 anos da cidade.
Atualmente Espaço Municipal Olympia Luiz Severiano Ribeiro, o tradicional cinema foi inaugurado no dia 24 de abril de 1912, tempos áureos do Ciclo da Borracha, pelos empresários Carlos Teixeira e Antônio Martins, donos do Grande Hotel e do Palace Theatre, ambos localizados na Av. Presidente Vargas, a poucos metros do cinema. O objetivo era atrair frequentadores do Theatro da Paz e os hóspedes de seu hotel.
Inspirado nas salas de cinema francesas, ainda hoje o espectador entra no recinto por baixo da tela. Algumas características arquitetônicas do estilo neoclássico da Belle Époque foram se perdendo com o tempo, como por exemplo, o mármore de Carrara que ornamentava a sala de espera, os lustres de cristal e a fachada o prédio. Em 1946, o cinema foi comprado pelo grupo Severiano Ribeiro, dono de um circuito nacional de salas exibidoras.
Conforme conta o crítico e pesquisador de cinema, Pedro Veriano, em 2006 o neto de Severiano Ribeiro resolveu fechar a sala, mas felizmente a Prefeitura Municipal de Belém o alugou. “Anos mais tarde foi considerado pela Câmara Municipal casa de utilidade pública. Hoje é programado pela Associação de Críticos de Cinema do Pará (ACCPA), mas, por não poder cobrar ingresso, exibe filmes de embaixadas e de domínio público, utilizando preferencialmente o dvd & bluray”. Hoje, dividindo espaço no mercado com as salas de cinema multiplex, o Olympia resiste com uma programação de clássicos e de filmes novos que não entram no circuito comercial.
Para crítica de cinema Luzia Miranda, que juntamente com seu esposo Pedro Veriano, escreveu o livro “Cinema Olympia – 100 Anos da História Social de Belém”, manter este espaço é de extrema importância. “Primeiramente, pelo valor histórico de um monumento que faz parte da memória de Belém e cruza com fatos tão importantes da vida política e cultural da cidade. Segue-se a presença hoje de ele ter se tornado um centro de resistência à exibição de filmes, levando para a tela desse cinema os clássicos e ou de outras escolas internacionais que não são parte da programação regular dos cinemas comerciais. Essa resistência está se dando tanto institucionalmente, ao ser bancado pela FUMBEL, como por membros da sociedade civil, a exemplo, a ACCPA – Associação de Críticos de Cinema do Pará – que tem garantido o alto nível estético das escolhas desse programa”.
Memória
Em sua trajetória de momentos áureos e outros nem tanto, o Olympia guarda parte da memória histórica da cidade, conforme conta Luzia Miranda. “A memória histórica de uma cidade tende a se comunicar também através de seus monumentos. O cinema Olympia é um desses monumentos. Em sua sala, os ambientes, tanto material como socialmente, foram se transformando, convergindo para que ele contasse ou guardasse as lembranças de todos quanto passaram por essa sala. Ou mesmo fizessem dele um ponto de referência para qualquer trama. Foi testemunha muda de, pelo menos, duas revoluções – a que depôs o intendente Antônio Lemos, em 1912, queimando-se o prédio do jornal chefiado por esse político e situado a poucos metros do cinema; e a Revolução de 1930, um episódio da história nacional que no Pará envolveu conflitos em suas proximidades. Também abrigou personalidades que se destacaram no Pará e foi palco de muitos enredos que se podem chamar de 'cinematográficos' entrando nos dramas, comédias e principalmente romances de várias gerações”, afirma.
Pedro Veriano é um dos que possui uma relação de lembranças marcantes vivenciadas neste cinema centenário. “Nasci e morei por muitos anos perto do Olympia. Por isso, frequentava bastante as sessões de diversos horários. Quando criança marcava a matinal dos domingos, geralmente pré-estreias. Ao longo dos anos vi os festivais, as retrospectivas, o que lançou moda e cativou público. Também fiz parte dos que programaram a sessão Cinema de Arte, aos sábados pela manhã. Tenho uma boa parte de minha memória dedicada ao 'velho Olímpia', uma relíquia para gerações”. Suas memórias vão além, conforme conta Luzia Miranda, pois foi no Olympia que o casal iniciou o namoro.
“O Olympia carrega minhas recordações de um tempo de afetos. Em sua sala de exibição iniciei o namoro com Pedro Veriano e que resultou no nosso casamento quatro anos depois. Assim, a memória afetiva de um tempo de adolescente se mescla a várias outras, como a circulação de minhas filhas que iam nascendo e se iniciando na sétima arte por lá, como também a das emblemáticas questões apresentadas pelos entrevistados que reuni para tratar de Belém, quando pesquisei a história política das primeiras fases republicanas paraenses. A forma, o modo e os meios de chegarem até a essa casa de espetáculos foram referidos como transversais na vida dessas pessoas”, conta Luzia.
Sua relação com o cinema permanece viva, após sua atuação para a permanência do Olympia em funcionamento. “Com Pedro Veriano e o grupo cultural que reunimos em torno da luta pelo seu não fechamento em 2006, garantimos uma vitória. E hoje, sim, frequento essa sala com sua nova programação e/ou quando faço dela um dos ambientes para discutir as questões de gênero ao escolher uma programação específica para esse fim (Luzia é coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas "Eneida de Moraes" – GEPEM/UFPA). Vivo o Olympia em sua nova história”, finaliza.
Que aproveitar a programação do Cine Olympia? Acompanhe os filmes em cartaz através do endereço eletrônico http://www.espacomunicipalcineolympia.blogspot.com.br/.