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Através dos traços do cartunista Maurício de Souza, as crianças da Escola Estadual Valdomiro Rodrigues de Oliveira, localizada no bairro do Benguí, periferia de Belém-PA, tiveram contato com o tema trabalho infantil, de forma lúdica, o que trouxe resultados. A revista em quadrinhos “Turma da Mônica – Trabalho Infantil nem de Brincadeira”, do Tribunal Superior do Trabalho (TST) e Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT), foi o instrumento utilizado para provocar reflexões nos estudantes, que foram apresentadas nesta sexta-feira (03), durante o evento “Lugar de Criança é na Escola. Diga Não ao Trabalho Infantil”. A ação foi viabilizada através de parceria com a Comissão de Erradicação do Trabalho Infantil e de Estímulo à Aprendizagem do Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região, que cedeu o material.
O tema Trabalho Infantil foi desenvolvido com todos os 370 alunos da escola, e a revista da Turma da Mônica, com cerca de 170 estudantes das seis turmas de 2º e 3º anos do ensino fundamental. Deste trabalho resultaram exposição, maquetes, cartazes, redações e apresentações teatrais e musicais. Para a professora Leina Aires, que coordenou a realização das atividades, trabalhar este tema foi fundamental para esclarecer as crianças dos seus direitos e seus deveres. “A escola tem que esclarecer sobre os direitos, para que eles possam levar para casa, para os pais, e, principalmente, sobre trabalho infantil, para desmistificar aquela fala de que tem que trabalhar, que 'é melhor do que estar na rua'. Para que possam compreender que com o trabalho eles perdem muito na escola e que é através da educação que eles vão ter um futuro bem melhor”, declarou.
A estudante Raynara Lorrane Oliveira, de 9 anos, assimilou o aprendizado da revista em quadrinhos e expressou, através de uma redação, o que aprendeu, ganhando, juntamente com a estudante Iara Rodrigues, também do 4º ano, como as melhores redações sobre o tema. Para ela, que já tinha ideia dos males do trabalho infantil, foi prazeroso participar do concurso de redação. “Eu achei a cartilha ótima, fui pensando e escrevendo, e ganhei o concurso!”. Como premiação, as estudantes receberam das mãos da Desembargadora do TRT8, Maria Zuíla Dutra, Membro do Comitê Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil e de Estímulo à Aprendizagem e Gestora Regional da Comissão, uma camisa da campanha “Dê Cartão Vermelho ao Trabalho Infantil” e o boton do catavento, símbolo de combate ao trabalho infantil, para que atuem como embaixadoras do combate ao trabalho infantil dentro da escola.
O envolvimento de Raynara com o trabalho proposto pela escola foi motivo de orgulho para sua mãe, Cleide Souza de Oliveira, que foi vítima de trabalho infantil e abandonou os estudos aos 12 anos. “Como eu não tive oportunidade de continuar meus estudos por ter que trabalhar muito cedo, tento fazer um futuro melhor pra minha filha, fiquei muito alegre e orgulhosa dela. Acredito que é muito importante os estudos e o incentivo dos pais. O lugar de criança realmente é na escola, e através dela eu quero o futuro melhor, o futuro que eu não tive, que ela seja uma pessoa que tenha uma boa profissão”, afirmou. Hoje, mãe de três filhos estudantes da escola, Cleide busca um futuro diferente para a família e voltou a estudar. “Parei de estudar com 12 anos para trabalhar e ajudar meu pai, que não tinha condições, para comprar minhas coisas, tive minha filha muito nova e não quero esse futuro para ela. Hoje, estou estudando de novo e pretendo ser da polícia militar”.
O trabalho infantil faz parte da realidade do bairro e de muitos estudantes da Escola, por isso o trabalho desenvolvido foi de extrema importância, conforme destaca a Coordenadora da Escola, Keila Oliveira. “Nossa escola é localizada numa comunidade constituída por uma maioria de pessoas de baixa renda, por isso é necessário que a gente faça esse trabalho, porque essa questão de trabalhar para ajudar no sustento da família é o que leva muitas crianças a ingressarem neste mundo do trabalho. É uma realidade que a gente vivencia na escola, passamos pelas ruas do bairro e vemos alunos trabalhando em estâncias, entregando areia, por exemplo. Isso mostra que a gente ainda precisa trabalhar muito para que esta cultura seja mudada e para fazer com que os pais percebam que eles têm que priorizar a educação, que essa é a maneira mais rápida e correta de transformar a realidade deles”, destacou.
Para a Desembargadora Zuíla Dutra, participar deste momento foi emocionante. “A emoção é indescritível, perceber o envolvimento de todos os professores e alunos no trabalho, as atividades apresentadas demonstraram que de fato foi assimilada a mensagem da cartilha e, para mim, isso tem um significado profundo, porque não vejo saída para o problema que a gente vive a nível nacional, estadual e municipal, que não seja a educação. A educação é o caminho para a libertação e esta escola está sendo um exemplo vivo de que é por meio da educação de qualidade, é por meio de professores educadores que vamos conseguir preparar um futuro diferente. É isso que pretendemos com a nossa Comissão, contribuir para esclarecer sobre os malefícios do trabalho infantil, contribuir para que o adolescente ingresse no mercado de trabalho pela porta da frente, com todos os direitos e garantias previstos na legislação, e, acima de tudo, despertar o sonho dessa criança e desse adolescente. Que esse nosso trabalho seja de fato uma semente de esperança para cada um”, declarou.
A Diretora da Escola Valdomiro de Oliveira, Carla Barbosa, considerou a parceria com a Comissão do TRT8, fundamental para o desenvolvimento da temática. “Já trabalhamos dentro do eixo ética e cidadania estes temas que são temas sociais, extremamente importantes para o desenvolvimento de nossas crianças e a conscientização da própria comunidade escolar, então, se não fosse o apoio do TRT8 não teríamos condições de fazer toda essa articulação. O material recebido foi fundamental para que os professores pudessem ter um suporte pedagógico metodológico para desenvolver a temática de uma forma mais adequada à nossa faixa etária de ensino, que contempla as crianças de 6 a 13 anos”, afirmou.
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