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Na próxima semana, dias 16 e 17 de junho, Belém (PA) sediará o XII Congresso Brasileiro de Assessores de Comunicação da Justiça – Conbrascom 2016, promovido pelo Fórum Nacional de Comunicação e Justiça (FNCJ). Este ano o tema central será “A Comunicação Pública como instrumento para transformação social”, onde em diversos painéis serão debatidos a importância da comunicação nos momentos de crise, sua relação com os direitos humanos e a transformação social, e as mudanças provocadas pelas novas mídias. Para o público entrar no clima do evento, publicaremos antecipadamente algumas entrevistas realizada com os painelistas.
A primeira delas foi realizada com o Prof. Ms. Alberto Marques, da Universidade Católica de Brasília, que no evento participará do painel “Brasil 3.0: o papel das novas mídias nas mudanças sociais”. Alberto Marques é doutorando em Comunicação pelo Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, com estágio de doutoramento no exterior (bolsa sanduíche Capes) no Departamento de comunicação da Universidade da Beira Interior (UBI – Portugal) e tem interesse em assuntos relacionados à cibercultura, com foco em comunicação organizacional, comunicação pública e jornalismo digital.Confira a entrevista:
Na sua visão, como as novas mídias podem contribuir na construção de uma comunicação mais transparente entre as instituições públicas e a sociedade?
Existem diversas apropriações das ferramentas comunicacionais. Elas vão proporcionar tanto uma maior como uma menor transparência. Digo isso porque esses graus dependerão de quais profissionais estão à frente das decisões estratégicas. É uma questão de compreensão das potencialidades oferecidas por essas tecnologias e os usos dados pelas instituições.Contudo, é importante frisar que as tecnologias comunicacionais têm se desenvolvido, inclusive em termos de consumo pela população, e com isso impulsionado novas práticas dos usuários e das instituições. Na contemporaneidade esses usuários são pessoas com acesso a um dispositivo digital e multifuncional, seja ele móvel ou não, e com acesso à internet. Todos eles, quase metade da população brasileira, estão produzindo algum tipo de conteúdo, compartilhando suas experiências e acessando conteúdos de outros usuários.Esse comportamento, que perpassa por uma transformação cultural, passa a tencionar as instituições a serem mais eficientes com seus públicos. Até os mais conservadores se sentem pressionados a adotar novas práticas.
Com isso, o que temos observadoé uma comunicação mais dialógica e proativa. Como a popularização das novas mídias vêm modificando o modo das assessorias de comunicação atuarem?
As assessorias de comunicação trabalham em diversas frentes e com estruturas diversas. Além disso, o termo nova mídia é bastante amplo e muitas vezes não expressa algo concreto. Por isso tenho dificuldade de sintetizar quais seriam essas transformações. Um ponto fundamental a destacar é que não há comunicação on-line sem comunicação off-line. É fundamental que todas as ferramentas usadas levem sempre em conta um plano de comunicação da instituição.Feitas essas observações, posso destacar algumas áreas que são mais recentes e que subsidiam de forma mais clara a comunicação. Uma delas são os curadores de mídias sociais. Esses profissionais são os responsáveis por acompanhar o que se fala na rede e por fazer uma intermediação entre a instituição e os seus públicos.Nem sempre são eles, os curadores, os responsáveis pelo monitoramento na web, que também é uma área de atuação, mas este também é um ponto central no processo comunicacional. Nunca foi tão fácil mensurar, extrair e armazenar dados dos nossos públicos.Entre os passos a serem dados por esses profissionais estão a coleta, a sistematização e a avaliação dos dados. Esses pontos passam a ser umas das competências desejadas pelos profissionais de comunicação. Com o monitoramento, pode-se extrair dados para campanhas, conhecer a eficácia de projetos comunicacionais, analisar públicos, entre outros pontos. Apresentados esses dois aspectos, posso afirmar que há uma crescente demanda por profissionais multitarefas e certamente as universidades não oferecem uma formação tão ampla. É necessário que estes profissionais busquem novas competências. Eventos como o Conbrascom acabam contribuindo nesse processo de formação.
Como o sistema de justiça, tradicionalmente conhecido por ser mais fechado, pode se utilizar destas ferramentas para construir uma comunicação eficiente com a sociedade?
Acho que a comunicação de justiça avançou bastante e certamente avançará mais. A continuidade desse avanço perpassa pela compreensão das lideranças, de todos que estão em cargos de chefia e decisórios, sobre a importância da comunicação feita para o cidadão.A continuidade de campanhas permanentes e a capacitação ininterrupta dos que atuam nesses espaços são passos estratégicos também. Ninguém melhor do que eles para saber o que acontece nesses locais. Todos esses servidores precisam de incentivo à inovação e à promoção de uma comunicação pública de qualidade.Rádios e televisões públicas cumprem um papel fundamental também nesse processo e certamente a televisão digital ampliará essas conquistas. O Judiciário como um todo precisa ficar atento ao potencial que este novo suporte oferecerá ao cidadão comum, que está na ponta e sem acesso à internet.De forma resumida, são diversas frentes a serem trabalhadas e que precisam estar entre as metas estratégicas dos órgãos.
De que forma avalia a utilização das novas mídias pelas instituições públicas? Pode nos citar exemplos de destaque do que seria uma comunicação bem construída?
Eu tenho dificuldade de apontar para alguns trabalhos porque não tenho acesso aos objetivos de cada instituição. Não acho que exista uma fórmula. Cada instituição, a partir de suas necessidades e objetivos, adotará uma estratégia diferente. Importante é sempre avaliar se seus planos estão funcionando para então se pensar em novas táticas. Destaco que o trabalho desenvolvido nas redes sociais pelo CNJ é bem interessante. Vejo com muita nitidez princípios da comunicação pública e ao mesmo tempo o uso de potencialidades da rede.
Em momentos delicados, como momentos de crise, como comunicar através das novas mídias sem que isso gere impacto negativo para a instituição?
Todas as instituições devem ter um plano de crise. Não há como pensar em mídias separadas dentro de uma única instituição. Existem protocolos bem delimitados que devem ser seguidos. Por isso é importante ter profissionais com capacidade analítica à frente desses espaços.