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Na sexta-feira (17), o XII Congresso Brasileiro de Assessores de Comunicação da Justiça – Conbrascom 2016, realizado em Belém, trouxe ao debate os temas “Brasil 3.0: o papel das novas mídias nas mudanças sociais”, com os jornalistas Alberto Marques (Professor da UNB) e Álvaro Borba (Diretor de Mídias Sociais da Prefeitura de Curitiba); e “Comunicação na consolidação dos direitos humanos”, com o Juiz do Trabalho Jônatas Andrade (TRT8), Juiz de Direito José Anselmo de Oliveira (TJSE) e a Defensora Pública Felícia Fiúza (DPE-PA).
Iniciando os debates sobre o papel das novas mídias nas mudanças sociais, o Professor Alberto Marques expôs os princípios da Web 2.0, no qual se via a web como plataforma e a Web 3.0, que é a atual geração da internet, que significa web com significado, no qual os conteúdos estão organizados de forma semântica. Conforme destacou, neste contexto a escolha das palavras é fundamental em todo processo comunicacional, seja on-line ou off-line. Relacionando este conceito de web com as mudanças sociais, acredita que elas dependem da apropriação que o público faz e da postura que o órgão tem diante destes espaços.
“A boa comunicação é aquela que atende os meus objetivos. O estado tem um papel fundamental no processo de transformação social e precisa enxergar uma lógica de internet que emancipa o cidadão. O planejamento é fundamental, tudo é muito novo ainda e, se vou agir por impulso, tenho uma chance muito grande de criar crises a todo instante. Não posso imaginar que vou criar uma comunicação on-line se não tenho um plano off-line. Os dispositivos vão surgindo, mas a comunicação continua sendo a mesma, o que há é uma adequação e não uma ruptura”, afirmou Alberto.
Apresentando ao público uma comunicação de rede considerada bem-sucedida, que serve de inspiração a diversos perfis institucionais, participou do painel o jornalista Álvaro Borba, que coordena a equipe de mídias sociais da Prefeitura de Curitiba, instituição pública que ficou conhecida por suas publicações no Facebook. O painelista apresentou como o projeto foi pensado e vêm sendo executado, exemplificando com os posts produzidos, juntando a informação que querem passar com referências culturais. Segundo ele, “só jogar as informações institucionais na rede não atinge o grande público e, com referências culturais, atinge determinadas pessoas que não seriam atingidas e este público se sente acolhido”.
Suas publicações ganharam visibilidade com a utilização de memes. Álvaro explica que a instituição por mais forte que seja, não manda nesta rede e precisa se submeter a lógica dela. “Submetemos a nossa estética ao que a internet já pratica, por isso utilizamos a memética”. Conforme destacou, a memética vem dos estudos culturais e a considera cultura popular. “Um meme pode representar a oportunidade de passar uma mensagem. Utilizamos o tripé: divulgar serviço, promover cidadania e educar. São as três oportunidades em que utilizamos, por entender como uma comunicação de cultura popular”, afirmou.
Conforme destacou, o trabalho é experimentar, e nem sempre a experimentação é bem-sucedida, e, nestes casos, é preciso saber como agir. “Nas redes as corporações estão expostas o tempo todo, estão mais expostas do que já estiveram e a transparência não é opcional, é compulsória. Se a situação negativa aparecer, você tem duas opções: fingir que aquilo não está lá, ou trazer para seus canais e lidar com aquilo de uma forma controlada”, orienta.
Direitos Humanos
No último painel do evento, sobre o tema “Comunicação na consolidação dos direitos humanos”, o Juiz do Trabalho Titular da 2ª Vara do Trabalho de Marabá (PA), Jônatas Andrade apresentou a evolução do combate ao trabalho escravo no Brasil, frente na qual atua e é premiado e reconhecido nacionalmente. Relacionando o tema à comunicação, chamou a atenção que é preciso ficar atento às possibilidades de retrocesso e destacou que, infelizmente, a grande mídia vincula o tempo inteiro os direitos humanos à questão do apenado. Afirma que “as experiências de sucesso têm que ser vinculadas à marca dos direitos humanos, seja na garantia de direitos trabalhistas, entre outras”. Destacou ainda que, na atualidade, as instituições que não cumprem suas funções sociais tendem a extinção. “A demanda humanitária e social deve preceder a demanda corporativa, se invertermos essa lógica, infelizmente tenderemos ao pouco sucesso. Portanto, parabenizo que um evento como esse eleja o tema transformação social para debater”, declarou.
De acordo com o Juiz de Direito José Anselmo de Oliveira, que também participou do painel, é necessário contextualizar a questão dos direitos humanos. “A história dos direitos humanos é a história da nossa civilização e temos nessa evolução lenta todo um processo que não foi pacífico. Há o equívoco de que todos aqueles que defendem os direitos humanos são quase marginais e a sociedade tem que ser informada de forma clara, objetiva e sobretudo didática”, afirma. Destacou em sua fala que a forma como a comunicação se dá tem mudado e que é preciso usar as novas ferramentas para alcançar a nova população, que não lê jornal e não vê televisão. Neste contexto da nova comunicação, com novos públicos e novas plataformas, destacou que “o setor de comunicação deve ser entendido como ferramenta de gestão”.
Encerrando o painel, a Defensora Pública Felícia Fiúza, falou da atuação do Núcleo em que atua, e destacou a importância da democratização da comunicação. “As pessoas ainda entendem direitos humanos de uma forma um tanto quanto deturpada. A gente tem que lutar contra o senso comum de que direitos humanos é só para bandido”, afirmou. Segundo ela, a comunicação tem papel fundamental neste processo e é preciso que se inicie um trabalho nas escolas e comunidade neste sentido da democratização da comunicação.
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