Conbrascom 2016: “O principal desafio é saber experimentar com segurança”

— Foto: ASCOM8

 

Para contribuir com o debate sobre o papel das novas mídias nas mudanças sociais, o XII Congresso Brasileiro de Assessores de Comunicação da Justiça – Conbrascom 2016, trará à Belém, nos dias 16 e 17 de junho, o jornalista Álvaro Borba, Diretor de Mídias Sociais da Prefeitura de Curitiba. Álvaro coordena a equipe de profissionais responsável pela conhecida página do Facebook da Prefeitura de Curitiba, que hoje possui mais de 800 mil seguidores. Confira a entrevista realizada com ele, sobre sua atuação e como vê as mídias sociais nas instituições públicas:

Como se deu seu envolvimento com a comunicação através das mídias sociais? Sua primeira experiência como social media foi na Prefeitura de Curitiba?

Atuei no jornalismo diário desde o começo da década passada. Sugeri iniciativas em mídias sociais a vários veículos nos quais trabalhei. Em alguns momentos percebi resistência. “Aqui fazemos comunicação de massa”, me disseram numa emissora de TV, quando dei a ideia de manter um serviço de atendimento capaz de responder os telespectadores de maneira individualizada no twitter. Um jornalista muito conhecido localmente, Gladimir Nascimento, foi convidado para assumir a secretaria de comunicação da prefeitura de Curitiba em 2013. Ele implementou o Departamento de Internet e Mídias Sociais logo que chegou e me convidou para integrar a equipe que montou. O Gladimir havia sido meu chefe de redação na Rádio CBN de Curitiba e havia acompanhado minhas investidas anteriores em mídias sociais. Hoje, coordeno o trabalho.

Na sua visão, qual o principal desafio das instituições públicas nesta comunicação via mídias sociais?

O poder público tem a sua velocidade. A internet tem a velocidade dela. Quando essas duas velocidades são confrontadas, é necessário buscar um equilíbrio. Para o poder público, isso é muito positivo. Apenas a simples presença de uma instituição pública no ambiente digital já é o suficiente para obrigá-la a se tornar mais ágil. É claro que, internamente, isso causa um choque atrás do outro. Nossa missão é administrá-los.

Você compartilhará sua experiência com jornalistas do sistema de justiça, na sua visão, como o judiciário, que é historicamente conhecido por ser um poder mais fechado, pode utilizar as novas mídias para uma comunicação mais transparente com seu público externo?

Na década de 60 um cara muito mais esperto que eu avisou que, no futuro, todos teríamos nossos 15 minutos de fama. Hoje, o que eu posso dizer é que esse futuro chegou. Em 2016, seria mais adequado imaginar que, no futuro, todos teremos nossos 15 minutos de privacidade. 

O que eu quero dizer com isso é estamos expostos. É até um clichê. Essa exposição vale para a pessoa física e vale para a pessoa jurídica também. Corporações, sejam elas públicas ou privadas, estão expostas. A transparência não é opcional. A transparência, em nosso momento histórico, é compulsória.

Algumas corporações serão capazes de aceitar essa nova realidade e lidar com ela. Todas as outras aprenderão da pior forma. Jornalista​s​, no papel de repórteres ou assessores, sempre estiveram na vanguarda da transparência. É deles parte da responsabilidade de promover a evolução cultural das corporações que os empregam.

No desenvolvimento do trabalho de mídias sociais da Prefeitura de Curitiba, qual foi ​o​ principal obstáculo enfrentado pela equipe?

Não dá pra inovar sem experimentar. A experimentação é um processo perigoso, justamente porque é através dela que se acumula o conhecimento prévio que vai gerar segurança para o projeto no futuro. Então, a resposta é essa: o principal desafio é saber experimentar com segurança.

Quando a equipe de comunicação da Prefeitura de Curitiba desenvolveu esta linha para suas mídias sociais, imaginava a grande aceitação e repercussão que teria, chegando a influenciar outras instituições?

Ficamos muitos felizes com o surgimento de projetos inspirados no nosso. Trabalhamos no setor público e acreditamos que, justamente por isso, todos os fundamentos do nosso trabalho devem ser públicos. Sabíamos, na época, que o poder público tinha muita margem para evoluir na cultura de uso das redes sociais. Sabíamos que, assim que descoberto, o modelo receberia alguma atenção de outras instituições públicas, mas não fazíamos ideia do que viria depois disso.