Conbrascom 2016: “Quase sempre as crises se originam em falhas de prevenção”

— Foto: ASCOM8

 

Durante o XII Congresso Brasileiro de Assessores de Comunicação da Justiça – Conbrascom 2016, promovido pelo Fórum Nacional de Comunicação e Justiça (FNCJ), nos dias 16 e 17 de junho, em Belém (PA), os participantes poderão debater o tema “Crise de Estado e estado de crise: comunicação, gestão e desafios organizacionais”, com grandes nomes da área. Entre eles, o Prof. João José Forni, Mestre em Comunicação e com vasta experiência em Comunicação Empresarial, atuando principalmente com os temas: crise em comunicação, assessoria de imprensa e gestão da comunicação em períodos de crise na organização. Autor de livros e artigos sobre o tema, o painelista fala um pouco sobre o tema na entrevista abaixo. Confira! 

No evento, o Sr. participará do painel que trata sobre momentos de crise e o papel da comunicação neste contexto. Como trabalhará o tema para o público de jornalistas que integram o sistema de justiça brasileiro?

Primeiro, destacar a importância da comunicação, principalmente nos momentos mais difíceis para a organização. Separando o que é tratar da realidade da crise (gestão da crise) e o que é cuidar da percepção da crise (comunicação de crise). O profissional da comunicação é o guardião da reputação da organização e, portanto, sua atuação é decisiva e imprescindível nos momentos de crise, porque as crises sempre são ameaças graves à reputação. 

Qual a importância da comunicação nos momentos de crise?

Não existe evento de crise sem comunicação, porque toda a crise precisa de uma versão. Daí a importância do preparo das organizações públicas e dos profissionais de comunicação para enfrentar com rapidez, assertividade e transparência esse momento. Precisa de estratégia, de porta-voz treinado, de decisões rápidas. É pela comunicação que a “história” da crise vai ser escrutinada pela mídia, pelos stakeholders. Para o bem ou para o mal. 

O sistema de justiça brasileiro, mais especificamente a Justiça do Trabalho, vem enfrentando este ano um momento delicado devido aos cortes orçamentários significativos. Neste momento, de que forma a comunicação deve atuar internamente para trabalhar as informações relacionadas ao tema de modo a não impactar o público interno negativamente?

Se você se refere a cortes orçamentários relacionados a salários ou a projetos que não podem ser implementados, porque não há recursos, é preciso que a comunicação interna trabalhe isso no sentido de a Justiça entender o momento que vive o país. Todas as organizações públicas e privadas estão apertando ou contingenciando os orçamentos; esse é o ônus que o país paga pelo descontrole nos gastos públicos ocorrido nos últimos anos. Um dia a conta chega. E chegou. Não existem recursos ilimitados e a Justiça tem que entender que o país viverá pelo menos dois a três anos de aperto. Todos estão pagando a conta. Nesse momento, é preciso estimular a criatividade, fazer mais com menos. As crises não necessariamente acabam com a organização. E é nesses momentos que a busca de alternativas faz a organização crescer. Os servidores precisam estar conscientes que não há espaço para pedir mais recursos. E a comunicação deve deixar isso bem claro​,​ de forma clara e objetiva.

Quando a crise gera impacto na sociedade, além de em seu público interno, há um modo diferenciado da comunicação atuar?

A sociedade tem muita dificuldade para entender quando os órgãos públicos, e em particular a Justiça, não cumprem suas funções por problemas orçamentários. A população não tem um entendimento claro de que o orçamento é finito. Ela acha que o governo fabrica dinheiro e que o serviço público deve sempre atendê-la na plenitude. Ela sempre acha que os recursos são ilimitados. Nesse momento, a transparência é a melhor saída. É preciso enxugar gastos, racionalizar e mostrar para a sociedade que, apesar do momento difícil do país, a Justiça está cumprindo a missão. O problema é quando se cortam serviços essenciais e a Justiça continua mostrando uma ostentação desproporcional ao momento de restrição. A imagem da Justiça não é boa nesse particular e por isso é preciso um trabalho intenso para reverter isso.

Como as instituições podem se preparar para agir corretamente nos momentos de crise?

Hoje, o treinamento de gestão de crises está cada vez mais voltado para a prevenção, a gestão de riscos. Se uma organização não conhece seus riscos, vai ter muita dificuldade de enfrentar crises, porque vai ser surpreendida. Monitoramento da mídia, das redes sociais, auditorias internas podem indicar ameaças que se transformarão em crises. Quase sempre as crises se originam em falhas de prevenção. 

De que forma o poder judiciário, tradicionalmente conhecido por ser mais fechado, pode se comunicar de forma transparente com o público externo sem gerar crise?

O Poder Judiciário tem uma tradição de ser hermético, burocrático, lento e conservador, sem falar na linguagem, muito empolada e difícil para a população, em geral. Mudar essa imagem é um trabalho da área de comunicação, que precisa cada vez mais praticar a transparência e desmistificar certos ritos, que não contribuem para tornar a Justiça mais democrática. Quando juízes, como aconteceu no Paraná, processam jornalistas porque divulgaram salários, sabidamente elevados, muito acima do padrão médio do brasileiro, com dados obtidos pela Lei da Transparência, não caracterizando quebra de sigilo, esses juízes estão contribuindo para reforçar a imagem de uma caixa preta, que não quer ser aberta para a sociedade, porque tem algo a esconder. Quanto mais transparente for o Poder Judiciário, mostrando por que um juiz ou servidores têm que receber determinado salário, mais sua relevância para a sociedade será percebida e menos críticas vai receber. Na sociedade aberta e transparente como a que vivemos, em que proliferam inúmeras mídias, ações como essa do Paraná acabam tendo mais repercussão negativa para o sistema.

Na sua visão, as mídias sociais impactaram no modo da comunicação trabalhar os momentos de crise nas instituições?

Sim, as mídias sociais representam um grande desafio para os comunicadores. Elas exigem muito mais agilidade nas respostas, em momentos de crise, porque não importa se o órgão público deixa de responder ou explicar um problema; as redes sociais, nesse momento, já estarão repercutindo. E​,​ se não existir uma versão oficial, o que vai prevalecer são as versões que circulam nas redes. Por isso cresce a importância de um sistema permanente de monitoramento. E a criação de “políticas ou estratégicas de como trabalhar nas redes sociais”, para determinar como e quando as redes podem ser usadas pelos membros do Judiciário e pelos empregados, sem correr o risco de agravar um fato negativo.