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O ex-presidente do TST Francisco Fausto foi homenageado, mas doou prêmio para entidades que também combatiam exploração de trabalhadores.
Reconhecido nacionalmente como combatente do trabalho escravo e do trabalho infantil, o ex-presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST) Francisco Fausto morreu neste sábado (30/7), aos 81 anos, em Natal (RN). Ele lutava contra um mieloma, espécie de de câncer no sangue, mas teve uma parada respiratória, no hospital.
O velório acontece hoje no Centro de Velório São José, em Natal, a partir das 10h. Será sepultado no domingo, às 10h, no cemitério Morada da Paz, na capital potiguar. Fausto estava viúvo há cinco anos e deixa seis filhos.
Um deles, o juiz da 16a Vara do Trabalho de Brasília, Luís Fausto, recordou-se do exemplo que recebeu em casa. “Ele sempre foi minha referência, mas involuntária, ele não me doutrinava”, contou ao Correio. “Ele inspirava sem dizer.” Segundo ele, seu pai era “um homem muito culto, amigo dos amigos e um humanista, que gostava de gente”. “Era um juiz do trabalho vocacionado, e criado com o princípio do direito do trabalho debaixo do braço.” A filha Karla Marinho publicou uma homenagem ao pai no Facebook hoje: “Sentirei falta do meu pai, o seu jeito calado, mas amava os filhos e os netos”.
O presidente das Associação Nacional dos Magistrados do Trabalho (Anamatra), Germano Siqueira, lembrou em nota da importância do colega. “Disse em certa ocasião: 'O trabalho escravo é uma caixa-preta que, quando for aberta, vai escandalizar o país'.” A atuação de Franscisco Fausto ajudou a acabar com fraudes na defesa dos trabalhadores. “A luta do ministro em defesa da Justiça do Trabalho ganhou destaque em 2003, quando defendeu a extinção das Comissões de Conciliação Prévia (CCPs) nos locais onde não houvesse superação de irregularidades”, destaca a nota da Anamatra. “Na época eram muitas fraudes, com conciliadores recebendo até R$ 50 mil reais por mês”, lembrou Siqueira.
O jornalista Irineu Tamanini, que trabalhou com o magistrado, disse que ele foi um melhores ministros de sua época. “Ele foi homenageado pela CUT: entrou no auditório e foi aplaudido de pé. Você imagina?” O colega do Francisco Fausto lembra os medos do ministro. “Ele tinha um medo de elevador… para entrar em elevador e avião.... Mas de elevador ele tinha mais medo. Era espirituoso, engraçado. Eu lamento muito.”
Francisco Fausto recebeu o prêmio “Direitos Humanos” do governo federal em 2003 por sua luta contra o trabalho escravo. Ele doou os R$ 10 mil obtidos com a homenagem para a Comissão Pastoral da Terra (CPT) da região de Xingüara (PA), a fim de ajudar nas atividades de erradicação do problema nas imediações do município.
Nascido em Areia Branca (RN) em 1935, Francisco Fausto foi juiz do trabalho em Natal e Recife (PE), desembargador em Pernambuco e, a partir de 1989, ministro do TST. Ao deixar a presidência da corte superior, em junho de 2004, se aposentou da magistratura.
FONTE: Correio Braziliense