O Jornalista Reinaldo Canto participou na última semana do evento “Amazônia Rural Trabalho Precário”, promovido pelo Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região, através do Programa Trabalho Seguro, onde palestrou sobre o trabalho no meio rural amazônico e a contribuição da imprensa. Há 12 anos atuando na área da sustentabilidade, cidadania e meio ambiente, o jornalista é colunista da revista Carta Capital, do Observatório do 3º Setor e do Mercado Ético, além de parceiro em projetos e conteúdos da Envolverde. Leia a entrevista com o jornalista, na qual ele fala sobre o evento, os desafios na disseminação de informações sobre a Amazônia e a visão da região.
ASCOM8: Qual a importância do tema trabalho precário?
Reinaldo Canto: Não se tem quase informações sobre isso e a partir do momento que o Tribunal fomentar esses dados, começar a colocar estas informações, isso de certa maneira vai contribuir para começar a mudar a realidade. O fato de se desconhecer, até generalizadamente o problema, é o primeiro caminho para não se resolver nada e dar-se a conhecer é o caminho em que efetivamente se começa a mudar a realidade. É muito importante principalmente para dar conhecimento a muitas pessoas que não tem esta informação.
ASCOM8: Quais os principais desafios para a disseminação desta informação?
Reinaldo Canto: Acredito que se planejar. É importante que se defina algumas estratégias e se assuma um planejamento para que essas informações comecem a ser disseminadas. Claro que a Amazônia, um estado como o Pará, tem dificuldades imensas pelas grandes distâncias, mas isso não pode ser um obstáculo intransponível. A partir do momento que se encontrar o caminho, através de ferramentas que consigam chegar nas comunidades, principalmente para falar dos direitos que estas pessoas tem, que às vezes até desconhecem o básico. A partir do momento que elas desconhecem, significa que ainda estão passivas de serem exploradas ao longo do tempo e não muda esta realidade. Outro ponto importante, é fazer chegar aos veículos de comunicação para que contribuam também para disseminar a informação. Assim se começa a ter um processo de mudança, o que com certeza não é uma tarefa fácil. Sabemos que o trabalho precário existe no Brasil todo, até mesmo nos grandes centros, então, numa situação em que existe uma exploração maior, onde existem problemas relacionados à ilegalidade no uso dos recursos naturais, as dificuldades são muito maiores, mas nada que seja um obstáculo que se considere intransponível. Tem que ser feitas mudanças e tem que se buscar soluções.
ASCOM 8: Você acredita que a visão sobre a Amazônia tem mudado com o tempo?
Reinaldo Canto: Ela tem se alterado mas de uma maneira tão vagarosa. Por exemplo, o quanto as chuvas no sudeste e centro oeste do Brasil, que são grande produtores de alimentos, dependem da Amazônia. Temos esta informação e mesmo assim é tão difícil mostrar para as pessoas que a Amazônia tem uma importância vital para todo o mundo, não só para os próprios moradores da região, mas também para as outras regiões do país. Há também a dificuldade muito grande de fazer com que os grandes veículos falem da Amazônia com maior frequência, com pontos de vista diferenciados, com matérias e pautas criativas e informativas.
ASCOM 8: Disseminar informações sobre a Amazônia mudaria a visão que se tem da região e até mesmo a realidade local?
Reinaldo Canto: Não digo que seria a solução, porque a solução não tem essa simplicidade, mas, sem dúvida nenhuma, se tivéssemos uma pressão maior, um reconhecimento maior de todos os problemas que ocorrem na região, principalmente onde há os grandes projetos, teríamos muito mais gente trabalhando no sentido de que estes projetos possam até ser implementados, mas que não desconsiderem as comunidades e as pessoas, que elas sejam parte da questão e parte da solução, não do problema. A pressão tem que ser vista como uma coisa positiva em prol de todos os brasileiros. As comunidades e o meio ambiente são vistas como o problema e são a solução. Um ponto importante é que o meio ambiente é visto até por algumas comunidades como um problema, e é uma pena imensa que isso ocorra, porque essas pessoas acabam sendo geradoras da destruição ambiental e também acabam sendo as grandes perdedoras nesta situação, as vezes perdendo até seu modo tradicional de sobrevivência, o que é muito triste. Temos na verdade que buscar um caminho. No passado tínhamos a visão de vencer a natureza, ela era um adversário, e se pensarmos no âmbito mais primitivo, não deixava de ser porque haviam os grandes predadores. Mas hoje temos a noção de que é preciso se integrar a natureza, e não vencê-la, e o meio ambiente faz parte da nossa sobrevivência. Vemos o aquecimento global, a falta de água no sudeste, e tudo isso é por conta de coisas erradas que foram sendo feitas ao longo dos anos, e em vez de nos integrarmos, tentamos vencê-la, e esse não é o caminho. Essa visão já tinha que ter mudando há muito tempo.