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Reunindo 44 trabalhos entre aquarelas, técnica mista e predominantemente nanquim, foi aberta na sexta-feira (26), no Espaço Cultural Ministro Orlando Teixeira da Costa, do Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região, a exposição “Vertigem de Linhas”, de Fernando Gurjão Sampaio. A exposição tem a curadoria do artista plástico Emanuel Franco e foi aberta pela curadora do Espaço Cultural do TRT8, Desembargadora Rosita Nassar, na presença de magistrados e servidores, além de familiares e amigos do artista.
Desenhar sempre foi uma prática na vida de Fernando, que desde criança manteve esse gosto pelos traços, conforme relata sua mãe Amaríllis Tupiassú. “Ele é muito curioso, se interessa por tudo e sempre manifestou o interesse muito grande pelas cores, pelos riscos e pelo desenho. Tenho tela dele emoldurada na sala da minha casa de quando era muito pequeno, e sempre admirei a maneira com que traçava uma linha reta, a perspectiva, apesar de eu ser uma leiga. Ele desenhava sempre tudo, às vezes estava corrigindo prova da UFPA e deixava com uma caneta em cima, e quando via, Fernando tinha desenhado nas provas, e eu tinha que entregar a prova com uma paisagem que ele fazia ou com uma cabeça de bicho”, relembra.
Para ela, ver a exposição montada lhe emocionou. “Essa exposição para mim foi uma surpresa, porque não conhecia grande parte deste trabalho. Nunca imaginei que ele fosse ter obras como as que estão aqui apresentadas. Para mim realmente foi uma emoção muito grande, porque acompanho esse trajeto dele, e agradeço ao Tribunal porque, se ele não tivesse sido incitado, talvez ainda estivesse guardando tudo isso”.
Fernando sempre teve o desenho como um hobby e, como destaca, “nunca foi algo para mostrar para outras pessoas”. As obras que compõem a exposição fazem parte de uma fase recente de seu trabalho, tendo sua maioria sido produzido em 2015, após passar por uma situação difícil, a qual o desenho lhe ajudou a superar. “No início de 2015 passei por uma situação que foi muito traumática e me balançou muito, daí o nome da exposição. Foi realmente uma vertigem que, por muito pouco, não me arrebatou. Depois de passar duas horas chorando por conta da notícia ruim que recebi, me levantei e fiz um desenho, e a partir dali comecei a desenhar mais e mais”, recorda.
Um ponto que destaca dos trabalhos que produziu neste período é a ausência de cor, com exceção dos trabalhos em que retratava seus filhos. “ Não queria desenhar com cor, depois que levantei dessa vertigem eu só queria usar o preto e branco, o nanquim, a aguada do nanquim, e relutava em usar cor. Isso me ajudou muito e essas linhas me salvaram dessa vertigem. Fiz cerca de 100 trabalhos neste período, uma produção intensa. Uma coisa engraçada foi que, nos trabalhos em que retrato meus filhos, consegui cor, mesmo em situações ruins. Nos demais, somente o preto branco, talvez para simplificar o dia a dia que estava complicado”, explica.
O curador da exposição, Emanuel Franco, destaca que o trabalho de Fernando representa uma nova trajetória dentro do desenho contemporâneo. “A gente tem uma exposição com essa linha conceitual de Fernando Gurjão Sampaio, através de representações de ambientes, de situações, de sonhos, desse nosso cotidiano, do dia a dia, do acordar e tomar o seu café, de você tomar banho, de sair para uma reunião, isso tudo é retratado nessas linhas”. Na exposição essa trajetória é representada por obras que vão desde a fase em que trabalhava com as cores, até o preto e branco do nanquim, predominante nos trabalhos.
Após esta primeira exposição de seus trabalhos, Fernando não tem expectativas, mas pretende experimentar novas possibilidades e vir a expor novamente. “Não tenho expectativas, mas a gente toma gosto pelas coisas. Tem algumas técnicas que eu gostaria de experimentar, alguns métodos de desenho que não conheço e gostaria de aprender, e, se eu achar que o trabalho é bom, buscarei expor novamente, pois de fato existem espaços. Neste ponto, elogio ao TRT8, que passa por um momento sombrio, com corte de verbas, e, num momento desses, não só existe, como ele resiste. A manutenção de um espaço desse, dedicado a expor obras de artistas que estão começando, é uma resistência, pois o TRT não só está fazendo o que deve fazer, mas está fazendo mais, dando cultura, educação. Parabéns por essa força de se manter vivo não só no básico”.
Serviço: A exposição pode ser visitada gratuitamente, de segunda a sexta-feira, das 8h às 13h.
Veja fotos da abertura da exposição aqui.